Do lado da família parda, ouviu que era até bonita, apesar de escura. Na escola, fora eleita a garota mais feia da turma e seus cachinhos foram alvo da maldade racista impregnada nas outras crianças. Com 9 anos, viu Taís Araújo ter sua cor comparada ao pecado e a pequena Thiarlley, ao olhar seus braços e notar a semelhança do sua tez com a pele da atriz, perguntou-se o que poderia ela, tão nova, ter feito de errado para se tornar uma pecadora pela cor. Aos 15 anos, alisou os cabelos e junto queimou parte de si. Dizia que queria ter nascido branca e que, se pudesse, afinaria o nariz. Na boca, usava batons claros a fim de ofuscá-la.
Sua dor a ensinou a escrever. Colocava no papel o grito preso na garganta. As páginas dos cadernos deram lugar às páginas na web e a plataforma blogger serviu de espaço para compartilhar seus escritos. Leitores surgiram, parabenizando-a e a incentivando. Ao fim do ensino médio, a escolha do curso já não era um problema: ela amava escrever e o faria pelo resto de seus dias.
Na faculdade de jornalismo, conheceu pessoas que abriram seus olhos. Fizeram-na amar o que enxergava no espelho. Os fios queimados deram lugar aos cachos cheios, o nariz não era mais um problema e a boca passou a ser admirada, portando os mais diversos tons de batom.
Já não escrevia só dor. Escrevia paixões, sonhos, amores.
Escrevia sobre si e sobre o mundo.
E o mundo ei de escrever sobre ela.
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