Mais um recebido do Grupo Companhia das Letras (e, aviso desde já, que acertaram em cheio) o livro “A Nova Era do Império: Como o racismo e o colonialismo ainda dominam o mundo” de Kehinde Andrews promete nos fazer entender o racismo estrutural pensado em escala global. Vamos de resenha?
Sinopse: O recrudescimento do racismo em suas formas mais brutas é um fenômeno global e tem acompanhado a consolidação da extrema-direita como força política hegemônica nas democracias ocidentais. Um livro imprescindível para entender o racismo estrutural em escala global. “Precisamos urgentemente destruir o mito de que o Ocidente foi fundado com base nas três grandes revoluções científica, industrial e política. Em vez disso, precisamos identificar como genocídio, escravidão e colonialismo são as pedras fundadoras sobre as quais o Ocidente foi construído.” Neste livro, o sociólogo britânico Kehinde Andrews reconstrói a história do Ocidente para demonstrar que racismo, xenofobia e afetos correlatos não são fenômenos regressivos ou anacrônicos. Pelo contrário, longe de significarem o retorno a um passado que a modernidade teria há tempos enterrado, eles seguem presentes, como substrato da sensibilidade cotidiana e cimento de nossa estrutura social. Assolada por uma crise de representatividade sem precedentes, desprovida de utopias que possam conter o avanço predatório do capitalismo e sob a ameaça iminente da emergência climática, a civilização ocidental procura uma saída que não pode mais ser oferecida por nenhuma de suas (des)ilusões de progresso. “É a chance de recusar a próxima atualização de sistema do imperialismo, destruir o hard drive e criar uma estrutura inteiramente nova para o sistema político e econômico mundial.”.
Se você me acompanha no Instagram, já deve ter visto que, ao mesmo uma vez por semana, várias e várias marcações fortes sobre racismo e capitalismo aparecem nos stories. Pois é, já marquei tanto esse livro que daqui a pouco só um pincel de pintar parede para marcar TUDO. Sabe a máxima de que para entender a história é preciso primeiro compreender quem a está narrando? Neste livro, o sociólogo britânico Kehinde Andrews apresenta uma reconstrução histórica do Ocidente, desafiando o mito de que a civilização ocidental foi fundada nas três grandes revoluções científica, industrial e política, escancarando que o genocídio, a escravidão e o colonialismo são as bases sobre as quais o Ocidente foi construído.
É importante apontar uma coisa que é bem óbvia e o livro faz questão de repetir várias vezes até que se faça compreendido: a escravidão de negros africanos e povos originários (nas Américas e na Oceania) foi fundamental para o lucro de diversos grupos e famílias ao longo dos anos em países colonizadores. Grandes empresas de seguro, por exemplo, fizeram fortunas ao emitir apólices de seguros para cargas de carne humana, como o autor se refere.
“Igrejas, políticos, bancos e milhares de indivíduos tinham investimentos pessoais na escravidão e todos foram compensados na abolição”. (p. 110-111)
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O livro quebra argumentos sobre a escravidão de negros vinda por outros negros, o papel da igreja católica e como as grandes potências, hoje, fingem se importar com direitos humanos em reuniões na ONU, apontando comportamentos de países africanos que, claramente, são heranças deixadas por aqueles que os afundaram.
É fundamental analisar, por exemplo, o fato do termo “genocídio” só existir após o extermínio de 6 milhões de judeus, em meados do século XX. Enquanto, muito antes, atos de violência levaram à morte de 10 milhões de pessoas no Congo e simplesmente passa despercebido, pois a morte de pessoas racializadas vale menos. É importante, aqui, dizer que não estamos numa corrida de “quem sofreu ou morreu mais”, no entanto, é preciso entender a razão para que a indignação e a reparação são seletivas, neste caso. Alguns merecem a revolta e a necessidade de apoio do Estado para se reconstruírem, enquanto outros “ganham” a liberdade e a frase “mas vocês já não foram libertos? O que mais querem?”.
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O livro é separado em 8 capítulos, sendo eles: Sou branco, logo existo; Genocídio; Escravidão; Colonialismo; O nascimento de uma nova era; O Ocidente não branco; Democracia Imperial e O feitiço se volta contra o feiticeiro. A obra não tem como foco unicamente redescobrir o passado, mas faz uma análise do presente, de como o sistema colonial ainda é presente nos países que usufruíram das mazelas da escravidão e de como o continente africano ainda tenta se reerguer após os saques de suas riquezas e de seu povo.
"A Nova Era do Império" é um livro provocativo e corajoso que desafia conceitos estabelecidos e nos convida a questionar a narrativa oficial sobre a história do Ocidente. Com uma análise perspicaz e embasada em pesquisas sólidas, é uma leitura indispensável para quem deseja compreender as complexidades do poder, da história e das lutas por justiça e igualdade.
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