Resenha #70 — 'Cartas para minha avó'; Djamila Ribeiro

Tenho a impressão de que a resenha de hoje vai gerar boas polêmicas, então, não me cancelem ainda! HAHAHA Conhecida como filósofa contemporânea que discute questões ligadas à raça e ao feminismo negro no Brasil, Djamila Ribeiro já apareceu por aqui na resenha do livro Pequeno Manual Antirracista (2019). Com títulos famosos como “Quem tem medo do feminismo negro?” (2018) e “Lugar de Fala” (2019) sua publicação mais recente é o livro intimista “Cartas para minha Avó”, publicado pela Companhia das Letras. Vamos de resenha?

Cartas para minha avó Djamila Ribeiro
Título: Cartas para minha avó
Autora: Djamila Ribeiro
Páginas: 200 páginas
Editora: Companhia das Letras

SinopseUm relato memorialístico pungente e sensível sobre ancestralidade, feminismo e antirracismo na criação de filhos. No mais pessoal e delicado de seus livros, a filósofa Djamila Ribeiro revisita sua infância e adolescência para discutir temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos numa sociedade racista. O relato se dá na forma de cartas a sua saudosa avó Antônia ― carinhosa e amorosa, conhecedora de ervas curativas e benzedeira muito requisitada. A cumplicidade que sempre houve entre avó e neta é o que permite que a autora rememore episódios difíceis, como a perda do pai e da mãe, as agressões que sofreu como mulher negra no Brasil e os desafios para integrar a vida acadêmica. Djamila também fala de relacionamentos amorosos e experiências profissionais, das músicas, das leituras e das amizades que a acompanharam em sua construção pessoal ― e da percepção paulatina de que a memória das lutas e das conquistas das pessoas negras que vieram antes de nós é a força que nos permite seguir adiante.

Cartas para minha avó Djamila Ribeiro
O livro foi um recebido do Time de Leitores 2021, da Companhia das Letras, e veio de brinde um postal autografado

Como o título já deixa claro, o livro é uma coletânea de cartas escritas por Djamila e direcionadas para a sua avó materna, Antônia. Antes da dedicatória, há uma foto de Antônia com roupas brancas e um turbante na cabeça, em um terreiro. Em seguida, o livro é dedicado a Iemanjá e a Oxum, o que, ao decorrer do livro, mostra-se ser de uma delicadeza enorme! 


Eu não soube bem o que esperar deste livro, já que estava acostumada com leituras mais densas e direcionadas por parte da Djamila, fosse a sua coluna na Folha, fosse seu último livro já mencionado aqui. No entanto, a sensação foi a mesma de quando li “Notas sobre o Luto” (2021), da Chimamanda Ngozi Adichie: é uma leitura intimista, que escancara dores e vivências pessoais de Djamila, narradas em tom de desabafo a sua avó Antônia, que faleceu quando a neta ainda era adolescente. 


Essa leitura faz uma coisa que é importantíssima nos dias de hoje: humaniza. Ligada a uma história de vida, com vários percalços ao longo do processo, Djamila Ribeiro deixa de ser a filósofa contemporânea com diversos títulos (e algumas polêmicas) e passa a ser só Djamila: que por vários anos foi, ao lado da sua irmã, as únicas garotas negras da escola; que lidou com a morte de seus pais com apenas um ano de diferença; que buscou nos estudos, incentivada por seus pais, quebrar o ciclo de empregadas domésticas que se é estabelecido em mulheres negras. A Djamila que deu a luz à Thulane, que questionou sentimentos, desejos, que se perguntou o que aconteceria se ela voltasse à faculdade.


As cartas possuem um tom carinhoso, sempre relembrando o afeto que era dado pela avó, Antônia, além de trazer, vez ou outra, questões ligadas ao relacionamento com sua mãe, Erani, e como a sociedade racista e machista moldou seus ensinamentos para com Djamila e Dara, suas filhas. O livro traz, ainda, a questão religiosa, o incentivo e a referência que Antônia exerceu para as religiões de matriz afro. O resgate a essa identidade e como foi crucial para Djamila se encontrar também neste ponto. 


O livro é lindo! Confesso que em algumas páginas me vi refletindo questões pessoais e se eu deveria agir diferente, agir como Djamila. Acho que o ponto alto da literatura é este: tocar o leitor ao ponto de fazê-lo questionar, independente do assunto. E sobre as polêmicas que eu disse lá em cima, entendo e concordo com algumas, até. Mas o importante é saber que o trabalho de Djamila segue sendo crucial no combate ao racismo, assim como o trabalho de inúmeras pessoas, mulheres e homens, que não conhecemos, mas que estão nas ruas, nas comunidades, liderando, buscando, criando estratégias para garantir o futuro de crianças negras brasileiras. Além disso, Djamila é, assim como todos nós, um ser humano. Logo, errar faz parte do pacote. 

E aí, já leu o livro? Gostou?
Conta pra mim! :)

6 Comentários

  1. É um livro bastante interessante e fluido, o livro nos faz refletir sobre o afeto pela avó, é um bom livro pra ler, bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, Lucimar! É um livro importante pra gente analisar as nossas relações familiares!
      Beijos <3

      Excluir
  2. Não conheço o livro nem a autora, mas pelo que vi aqui parece ser bem interessante a leitura.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Minda! Djamila é conhecida por tratar de assuntos ligados a raça. Se tiver a oportunidade de conhecer, é uma ótima autora! :)
      Beijos <3

      Excluir
  3. Oie, tudo bem? Já ouvi falar dela mas ainda não conheço sua escrita. Soube do lançamento desse livro e pensei mesmo que seria algo mais intimista, afinal ela está humanizando relacionamentos. Quem não gosta de recordar sua relação com mãe e avó? Sinto saudade da minha avó. Um abraço, Érika =^.^=

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Erika! É verdade! Mesmo passando pela questão racial, o livro pesa muito mais na questão intimista e de relações familiares. Eu gostei bastante!
      Beijos, obrigada pelo comentário! <3

      Excluir