De todas as possibilidades que pensamos e planejamos para o ano de 2020, ninguém nunca imaginou que uma pandemia estava a caminho. Lembro de ter escrito uma crônica sobre 2019 e ter dito que “2020 é um ano par. E, por mais supersticiosa que eu não seja, anos pares costumam ser tranquilos”. Coitada, eu diria! Com a disseminação do coronavírus, a necessidade da quarentena e o distanciamento forçado, veio também o luto. Um grande tabu na vida de todos nós, assim como o dinheiro, não aprendemos a falar sobre morte e as consequências para quem fica. Foi nesse cenário caótico que, não pela covid19, Chimamanda Ngozi Adichie perdeu o seu pai, em março de 2020. E foi a necessidade de falar sobre sua dor que nasceu o “Notas sobre o Luto”, publicado aqui no Brasil pela Companhia das Letras.
Autora de grandes livros de ficção como Americanah (2014), Hibisco Roxo (2011) e de não-ficção como Sejamos Todos Feministas (2015) e O Perigo de uma História Única (2019), Chimamanda Ngozi Adichie abre o seu coração neste livro, curto como alguns dos seus já publicados, mas profundo o suficiente para nos fazer questionar o nosso modo de viver o luto. Por que não falamos sobre ele? Por que fingimos que as pessoas viverão para sempre?
Eu acredito que o mais tocante e doloroso nesse relato é o distanciamento e a incerteza de quando ele acabaria. Nigeriana, a autora vive nos Estados Unidos e estava lá quando o pai faleceu, no continente africano. Eram comuns conversas pelo aplicativo zoom com toda família e foi estranho, melancólica e dolorosa aquela conversa onde seu irmão mais velho, Okey, apresenta a expressão serena de seu pai, de olhos fechados, parecia estar dormindo. Mas não estava.
Nós acompanhamos o processo de Chimamanda para suportar a dor, a não-aceitação, a distância, o receio dos aeroportos da Nigéria não abrirem tão cedo e impossibilitá-la de estar no velório de seu pai. As tradições nigerianas para o luto e como cada povo lida de um modo diferente com o processo de adeus e o luto.
Eu estava ansiosa tão ansiosa para ler este livro (que li, inclusive, o e-book disponibilizado pela editora para nós parceiros e depois recebi o físico), não pela temática, mas por saber que Chimamanda se escancarou em cada linha; sou grande fã dela e isso não é segredo para os leitores do Apenas Fugindo, já li seis de seus oito livros lançados no Brasil e era a primeira vez que eu poderia lê-la como ela é. Foi reconfortante enxergá-la para além de seus trabalhos e, sim, como uma pessoa que sente, que sofre, que relembra momentos ao lado de seu amado pai.
Notas sobre o Luto é a leitura necessária para que possamos entender a dor da perda. Esse tabu precisa ser quebrado, afinal, por mais que seja uma verdade dolorosa, todos nós vamos morrer. Não sabemos quando, não sabemos de quê, mas sabemos o porquê: é o ciclo da vida. Os que ficam, precisa reaprender a viver, agora sem a pessoa querida, e falar sobre o luto, dá-lo o sentido, é o primeiro passado.
E aí, conhecia o livro?
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12 Comentários
Na verdade a pandemia pegou todo mundo foi uma coisa que ninguém esperava, o livro conta da dor que várias pessoas estão passando o luto, fiquei muito interessada pelo livro, bjs.
ResponderExcluirÉ verdade, Lucimar! A pandemia evidenciou o quanto a gente precisa falar sobre morte e o luto!
ExcluirAbraços
Olá Querida, Tudo bem?
ResponderExcluirNão conhecia esse livro mas fiquei muito interessada para ler.
Muito Obrigada
Bjs Karina
Oi, Karina! Que bom que gostou do livro, depois me diz o que achou :)
Excluirbeijos
Luto é muito complicado, ainda mais de familiar. É um tema que tem que ser discutido, ainda mais no momento atual. Boa indicação!
ResponderExcluirÉ verdade, Carol! É importante quebrar esse tabu sobre falar acerca da morte.
ExcluirOi, tudo bem? Realmente, nunca imaginamos que nossas vidas mudaria dessa forma. Ainda mais o mundo inteiro de uma vez. Quase como vivenciar um período de guerra. Bem triste. Não conhecia o livro mas já ouvi falar da autora. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirSim, Erika, você disse tudo: quase um período de guerra. É importante falar sobre isso e compartilhar nossas dores.
ExcluirAbraço
Parece um conteúdo bem interessante!
ResponderExcluirBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Que bom que gostou, Teresa! Beijos
ExcluirEu também perdi meu pai, já fazem alguns anos, e acredito que se eu ler esse livro vou me identificar bastante. Ainda não conhecia esse livro, mas já tinha ouvido falar do Sejamos Todos Feministas.
ResponderExcluirBeijão! ♥
Relíquias da Lara
Oi, Lara! Se você estiver preparada para revisitar essa dor, é um ótimo livro para se sentir compreendida. Eu não perdi alguém tão próximo e me senti muito tocada, para alguém que perdeu, imagino o quanto possa ser importante.
ExcluirBeijos