Resenha #50 — 'O amor não é para covardes'; Diogo Souza

E vamos de mais uma resenha de e-book por aqui! O tempo tem sido de vacas magras, logo, investir na assinatura do Kindle Unlimited ou em livros mais baratos da plataforma têm sido a minha saída para manter a meta de leitura em dia. Além disso, o kindle está recheado de boas obras de autores independentes que aproveitam o espaço para divulgar suas obras. Apoie a literatura brasileira disponível no kindle e em outras plataformas autorizadas para tal! Nem todo mundo tem a possibilidade de lançar físico de primeira. Leia e-books nacionais, leia autores independentes. :)

O amor não é para covardes Diogo Souza
Título: O amor não é para Covardes 
Autor: Diogo Souza
Páginas: 170 páginas
Editora: Autor Independente (Amazon Kindle)
SinopseTudo o que Abraham queria era deixar para trás as perseguições e agressões que sofria do pai e do irmão. E pretendia fazer isso assim que desembarcasse do Titanic em Nova York, onde planejava fugir e começar uma vida nova, mesmo não sabendo como fazer isso. Na luxuosa viagem de primeira classe do Titanic, ele conhece Phillip, um belo e prestativo valete do conhecidíssimo e controverso Mister Kemble, que desperta todo tipo de comentário ácido da preconceituosa primeira classe. Phillip ampara Abraham após um incidente no salão de jantar e então surge uma improvável amizade. Com Phill, Abe se vê muito perto da liberdade que tanto sonhou e o sentimento que surge entre os dois o deixa encantado e apavorado. Seus destinos mudam para sempre na fatídica noite de 14 de abril de 1912, quando terão que lutar juntos pelo amor e pela vida. 


Mas chega de enrolação, vamos para a resenha de hoje! Lançado em 15 de agosto, “O amor não é para covardes” é o primeiro romance do autor Diogo Souza, grande parceiro aqui do blog e que já me acompanhou em diversos outros projetos. Diogo havia estreado no Kindle com a coletânea de contos e crônicas “Encontro com o Cara do Espelho”, também lançado esse ano, e teve a sua primeira publicação impressa com o livro-reportagem “Sobrevivendo a um relacionamento abusivo” disponível para encomenda na Amazon.


O enredo de “O amor não é para covardes” é ambientado no início do século XX, na tão conhecida história do navio Titanic. Só essa pitadinha de romance histórico já me enche os olhos; o autor mescla fatos reais com seus personagens de modo tão natural que nos deixa com uma pulga atrás da orelha: até que ponto tais personagens existiram ou são apenas ficção? Do meu ponto de vista, esse feito é um marco na vida de qualquer escritor: conseguir inserir seu enredo tão bem ao ponto de deixar seus leitores curiosos sobre a verossimilhança daquela história.



Confesso que, de início, a passividade de Abe com sua família me deu nos nervos! Às vezes, eu tinha vontade de entrar na história e meter uns bons tapas no pai e no irmão mais velho do protagonista, sacudir os ombros de Abe e fazê-lo ser feliz a força! Com o passar dos acontecimentos, porém, vamos entendendo ainda mais as razões de Abe se prender dentro de si, e a partir daí cresce o amor por Abraham e o ódio por sua família. 


Do outro lado da história temos Phill, um homem bem resolvido e inserido no meio elitizado por conta de seu chefe e mentor, Mr Kemble (menção honrosa ao melhor personagem SIM). Gosto da construção da personalidade de Phill, mesmo inserido numa época onde a questão da homofobia era ainda mais forte, o rapaz não tem receio de ser quem é. Sabemos que, ainda hoje, a comunidade LGBTQIA+ luta por direitos básicos de ir e vir, direitos básicos como sobreviver. É de se pensar que, ambientado em 1912, teríamos um personagem retraído, talvez escondido diante da repressão social que era ainda pior. Essa personalidade livre, no entanto, deixa o enredo ainda melhor. Foram pessoas como Phill ao longo dos anos que garantiram os direitos conquistados hoje e essa coragem de amar é o que tem garantido ainda mais. 


O amor não é para covardes Diogo Souza


“O amor não é para covardes” foi a minha primeira leitura LGBTQIA+. Mas Thiarlley, só agora? Sim, shame on me. No entanto, não poderia ter começado de melhor forma. Como parte da comunidade leitora, sei de muitos livros e enredos que tentaram ser inclusivos  em seus personagens e caíram em estereótipos, tendo até a maldição do personagem gay/negro que morre no final. Ter iniciado a leitura do gênero de modo tão positivo, com personagens bem construídos, com problemas reais, com finais fora do comum quando se trata de personagens LGBTQIA+ ou negros, foi incrível. 


Conheça o trabalho do autor


Uma das principais funções da literatura é construir o nosso imaginário a partir do que é vivenciado em vida. Pessoas LGBTQIA+ existem, trabalham, casam, têm filhos, pagam contas, terminam relacionamentos, começam novos. Bebem ou não, fumam ou não, dançam ou não; riem, choram, planejam, colocam em prática. Normalizar a pluralidade das vivências é o primeiro passo para conseguirmos a igualdade de direitos. E assim como diversos âmbitos, a literatura surge como aliada para dar voz a quem, por muito tempo, não teve. 


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Diogo Souza fez um belíssimo trabalho neste livro, pois nos mostrou o quanto é necessário coragem para seguir seus sonhos, para deixar as amarras de conceitos pré-estabelecidos para trás e ser quem somos, quem queremos ser. De fato, amar não é para covardes e a coragem de Abe e Phill é extraordinária. A pergunta que fica agora é: quando vem o próximo livro? 


 E aí, já leu o livro? Gostou da resenha?

Conta pra mim! 

1 Comentários

  1. Muito obrigado por essa resenha tão sensível e especial! É uma obra muito significativa para mim, é meu primeiro romance LGBTQIA+ e a minha primeira obra de ficção concluída. É muito emocionante ler sua resenha, principalmente porque você acompanhou todo o processo de construção desse livro. E agora você leu enquanto a leitora Thiarlley e não apenas como a amiga do escritor! Fico imensamente feliz por ver que o livro te tocou dessa maneira e fez repensar. Sem dúvida, é um estímulo para continuar escrevendo mais e mais. Obrigado por tudo!

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