Resenha #41 — 'Frank e o Amor'; David Yoon

Se você já acompanha o blog lá no Instagram (e se não, está na hora, hein?) sabe que no início de dezembro, mais um pacotinho recheado de livros chegou do Grupo Companhia das Letras. Dentre os livros recebidos, está o volume “Frank e o Amor”, de David Yoon, publicado no Brasil pela editora Seguinte, o selo jovem do Grupo Companhia. Lançado no início de novembro, a obra com temática adolescente traz alguns clichês que a gente ama e outros assuntos mais sérios que a gente também ama – e, se não ama, ao menos precisa discutir sim! 

Frank e o amor David yoon
Título: Frank e o amor (Frankly in Love) 
Autor: David Yoon  
Tradução: Lígia Azevedo 
Páginas: 400 páginas
Editora: Seguinte
Sinopse: Frank nunca conseguiu conciliar as expectativas de sua família tradicional coreana com sua vida de adolescente na Califórnia. E tudo se complica quando ele começa a sair com a garota de seus sonhos, Brit Means, que é engraçada, inteligente, linda... Basicamente a nora perfeita para seus pais – caso tivesse origem coreana também. Para poder continuar saindo com quem quiser, Frank começa um namoro de mentira com Joy Song, filha de um casal de amigos da família, que está passando pelo mesmo problema. Parece o plano perfeito, mas logo Frank vai perceber que talvez não entenda o amor – e a si mesmo – tão bem assim. 

Frank Li ou também Sung-Min Li é um adolescente americano, nascido no sul Califórnia, mas que carrega ascendência coreana, já que seus pais imigraram para os Estados Unidos antes de seu nascimento. No auge de seu último ano do ensino médio, Frank (como está mais acostumado em ser chamado) precisa lidar com suas problemáticas adolescentes – amores, provas, qual faculdade escolher? O que eu quero fazer da minha vida? – e, somado a isso, tem que lidar com questões indenitárias: apesar de ser coreano, também é americano. Compreende pouquíssimo coreano, isso o faz mais americano?


Além disso, Frank carrega o peso do racismo dentro da própria casa. Sua irmã Hanna Li, ou Young Li, não tem mais contato com a família desde que começou a se relacionar com Miles, um homem negro. Frank odeia o racismo de seus pais para com todos os povos possíveis, acreditando que devem permanecer puros e se envolverem, única e exclusivamente, com coreanos. Seu melhor amigo, Thomas – ou simplesmente Q – também é negro e Frank tenta ao máximo evitar o constrangimento de leva-lo em casa, passando a maior parte do tempo na casa de Q.

- E se Q fosse chinês? Vocês fariam esses ching-chong na frente dele? - Não – minha mãe diz, como se eu a tivesse insultado.- Só pelas costas então...- Não, Frank. - Vocês chamam Q de geomdungi pelas costas dele?- Frank, aigu! – Minha mãe me olha pelo retrovisor. Geomdungi é um apelido preconceituoso para pessoas negras.
- Q bom menino. – meu pai diz. Seus olhos continuam fechados. É como se ele estivesse falando enquanto dorme. Ele soa tão sensato e calmo, mesmo quando está bêbado. – Q família. Gosto dele. Meu pai diz isso apesar de Q ter ido à minha casa pouquíssimas vezes desde que nos conhecemos, anos atrás. [...] Então meu pai continua a falar.Enquanto dorme.- Q tem alma branca. Sabe como é?
Na maior parte do tempo, Frank silencia, pois tem plena ciência de que não vai conseguir mudar a cabeça de seus pais e o que acontece quando você tenta ir contra eles – sua irmã Hanna é a prova disso. Assim, Frank tenta conciliar duas vidas, aquela onde precisa lidar com os preconceitos e estatísticas falsas de seus pais e aquele onde ele é só um garoto normal. E essa vida dupla fica ainda mais intensa quando Brit Means aparece na vida de Frank. Uma garota branca.

Decidido a ter uma vida normal em seu último ano do ensino médio, Frank só quer passar um tempo com uma garota legal, se diverti com seu melhor amigo antes de que tudo isso acabe e precise ir pra faculdade. Mas como burlar as regras sem que, de fato, burle as regras?


Então Joy Song aparece. Com o mesmo problema que Frank – isto é, estar apaixonada por um cara não-coreano – Frank e Joy chegam a um plano que parece infalível: fingir um namoro entre os dois para que assim, com passe livre para saírem, possam se encontrar com seus reais parceiros. Parece incrível. E, de fato, dá certo. Porém, com duas garotas fantásticas ao seu lado – e a aceitação de seus pais favoráveis a Joy – Frank vai perceber que não entende nada do amor.

E nem sobre si mesmo.

Eu confesso que não esperava que um livro adolescente me tocasse tanto. O autor mescla as facilidades e clichês adolescentes com assuntos sérios como identidade, seu lugar no mundo, racismo, conflitos geracionais e como nós, pessoas de cor, não-brancas, precisamos nos preocupar com isso muito cedo. Pessoas brancas são, antes, o que quiserem e brancas por último. Nós somos negros(as), amarelos(as), indígenas antes de qualquer coisa, para só depois podermos ser alguma coisa.


O livro é maravilhoso em todas as suas páginas. E, quando fui ler sobre o autor, descobri que David Yoon é casado com Nicola Yoon (autora dos livros “O sol também é uma estrela” e Tudo e todas as coisas”), uma mulher negra. Fiquei feliz com isso, pois deu pra notar que há um pouco de David em Frank, em Hanna e em todas as problemáticas apresentadas.

Em resumo: leia  “Frank e o amor”. Parece adolescente e é, mas é também muito além do que os clichês adolescentes e românticos. É sobre identidade. É sobre se entender. É sobre quem somos.

E aí, gostou da resenha? Já leu o livro? 
Conta aí pra mim! :)

12 Comentários

  1. Eu adoro histórias jovens e adolescentes, sempre encontro muito a me ensinar. Esse livro ainda não tinha visto comentários, mas adorei tudo que você falou e o quanto gostou da leitura. Já quero conhecer.

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Eu tinha me afastado um pouco dessa temática e, confesso, quando o livro chegou, pensei que seria só um drama adolescente sobre romance, mas quebrei MUITO a cara! É um livro incrível. <3

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  2. Eu amei saber um pouco desse livro, ainda não conhecia. Com certeza vou querer lê.
    bj
    https://blogdamille2018.blogspot.com/

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    1. Que bom, Mille! Se tiver a oportunidade de ler, depois me diz o que achou. :)
      Beijos!

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  3. mt legal conhecer esse livro, e ainda mais saber que ele vai além dos cliches adolescentes que parece

    www.tofucolorido.com.br
    www.facebook.com/blogtofucolorido

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    1. É legal que mescla um pouco da vivência adolescente com essas questões mais sérias, dá um bom equilíbrio!
      Beijos

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  4. Realmente parece um livro clichê, mas da pra perceber que só parece. Os temas abordados são densos e capazes de construir uma história incrível! Ja quero ler este livro!

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    1. Sim, é isso! As temáticas, adolescentes e raciais, são mescladas de maneira bem equilibrada, o livro não fica bem clichê demais e nem pesado demais. Eu simplesmente adorei!

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  5. muito interessante esse livro, já quero ler!! amei

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    1. Oi, Patrícia! Que bom que gostou, se tiver a oportunidade de ler, depois me diz o que achou. :)
      Beijos

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  6. Muito boa a sua resenha.
    Meu maior receio era de que essa história fosse completamente um clichê adolescente, me sinto aliviada por ver que o livro vai além.

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    1. Esse também era o meu receio, sabia? Mas já na sinopse senti que poderia ser uma experiência boa. E, confesso também, li tanto livros com temáticas profundas esse ano, que um clichê adolescente até me fez bem HAHA

      Beijos

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