Se você acompanha o blog lá no instagram, já sabe que no último sábado, eu dei uma leve surtada com o pacote recebido do Grupo Companhia das Letras. Foram três livros incríveis, um deles sendo de uma das minhas autoras contemporâneas preferidas que já apareceu aqui no blog, Chimamanda Ngozi Adichie. O livro é bem curtinho, mas muito impactante. O exemplar de bolso conta com 61 páginas e é baseado em uma palestra dada por Chimamanda em2009, no TEDtalk. Após dez anos, o vídeo desse evento possui mais de 18 milhões de visualizações – tamanha a sua relevância em nos fazer repensar ações e visões.
Título: O Perigo de uma História Única (The Danger of the Single Story)
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução: Júlia Romeu
Páginas: 61 páginas
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: O que sabemos sobre outras pessoas? Como criamos a imagem que temos de cada povo? Nosso conhecimento é construído pelas histórias que escutamos, e quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto. É propondo essa ideia, de diversificarmos as fontes do conhecimento e sermos cautelosos ao ouvir somente uma versão da história, que Chimamanda Ngozi Adichie constrói a palestra que foi adaptada para livro. O perigo de uma história única é uma versão da primeira fala feita por Chimamanda no programa TED Talk, em 2009. Dez anos depois, o vídeo é um dos mais acessados da plataforma, com cerca de 18 milhões de visualizações. Responsável por encantar o mundo com suas narrativas ficcionais, Chimamanda também se mostra uma excelente pensadora do mundo contemporâneo, construindo pontes para um entendimento mais profundo entre culturas.
Com
exemplos próprios, a autora nos leva a refletir naquilo que não nos
aprofundamos e, a partir disso, acreditamos em histórias rasas e, muitas vezes,
inverídicas. Os estereótipos seguem nos perseguindo, seja pela cor, pelo
gênero, pela orientação sexual, pelo lugar onde se vive; não se aprofundar em
conhecimentos básicos em sociedade, isto é, acerca do outro, da vivência do
outro e daquilo que nos difere é dar vasão aos estereótipos e continuar a
perpetuá-lo.
Como
nordestina, uma coisa que ainda me incomoda é a visão que muitas pessoas do
sudeste e sul – ainda – têm de nós. Percebo, muitas vezes, que algumas pessoas
se chocam quando digo que me graduei numa universidade de elite, a segunda
melhor do nordeste, por exemplo. É como se, por se tratar do nordeste, vivêssemos
sem água encanada e energia instalada, em ruas com estrada de barro, com duas ou três crianças desnutridas correndo
com poucas roupas. Infelizmente, essa é uma realidade que ainda existe e a região foi denominada pela ONU como um dos territórios esquecidos e invisíveis,
mas não é a história única da nossa região. É importante se atentar a isso,
fazer-se aberto a conhecer e compreender novas realidades daquilo que você já
conhece, mas conhece apenas um pedaço da história.
Como
pessoa negra, a história única também é algo que me incomoda – e muito! Somos
plurais e isso precisa respeitado. A ideia de negros como serviçais perdura em
nosso país como herança da escravidão, mas há 131 anos que o modelo
escravocrata foi abolido do Brasil. Gritamos “somos todos iguais”, mas é
preciso que se deixe a história única de lado, os estereótipos, para que nos
vejam como pessoas diferentes, com histórias diferentes, com a pluralidade que
somos. Refletir e analisar as próprias ações é o primeiro passo, compreender a
sua visão única – e escravista – que nos enxerga sempre como a empregada, o
motorista, a zeladora, a atendente, a enfermeira. Para que assim, compreendendo
a pluralidade que somos, independente da cor da pele, possamos, de fato,
ver-nos como iguais.
Eu
gostei como Chimamanda apresenta um breve relato sobre o continente africano e
como, erroneamente, é visto como país,
e lembrando apenas como muito pobre,
repleto de pessoas e crianças desnutridas, o maior índice de AIDS do mundo. Ela
completa: “É claro que a África é um continente repleto de catástrofes. Existem
algumas enormes, como os estupros aterradores no Congo, e outras deprimentes,
como o fato de que 5 mil pessoas se candidatam a uma vaga de emprego na
Nigéria. Mas existem outras histórias que não são sobre catástrofes, e é muito
importante, igualmente, falar sobre elas”, p. 27.
Que
possamos esquecer a história única por alguns instantes. Numa discussão, sempre
frisamos que há os dois (ou até mais) lados da história, não é mesmo? Que
possamos ser assim na vida, em sociedade. Que possamos compreender que sempre
existe outras histórias, além dos estereótipos, além do senso comum, e assim,
quem sabe, possamos ao menos melhorar a harmonia entre nós.
E aí,
gostou? Já leu, tem vontade de ler? Conta aí o que achou. :)
16 Comentários
Maravilhosa! ♥️
ResponderExcluirChimamanda é incrível! ♥️
Excluireu li Americana da Chimamanda e me apaixonei pela escrita e temas tratados por ela, já quero ler esse tbm!
ResponderExcluirMenina, Americanah sempre foi o meu desejo de consumo, já comprei, mas ainda não li. Estou ansiosa demais!
ExcluirNunca tinha visto e ainda não conhecia, mas só pela resenha já pude me encantar.
ResponderExcluirwww.mundodasmulheresbrasil.com
Que ótimo, Luma! Essa autora tem livros incríveis, esse é um bom volume pra começar, pois é bem curtinho! :)
ExcluirNão conhecia sobre esse livro, mas pela resenha me apaixonei!
ResponderExcluirBjs
https://blogdamille2018.blogspot.com
Opa, fico feliz em ajudar. Se ler, me conta o que achou :)
ExcluirEncantada com cada palavra que escreveu 🥰 quero muito ler esse livro
ResponderExcluirUm beijinho enorme
Ai, que comentário mais fofo! Fico feliz de ter gostado da resenha. Beijos!
ExcluirFiquei com curiosidade para ler o livro! Amei a dica.
ResponderExcluirO meu blog: https://celinaporai.blogs.sapo.pt/
Oi, Celina! Que bom, fico feliz. Se gostar da leitura, me conta. :)
ExcluirBeijos
Parece ser bem interessante a leitura desse livro, existe tanto preconceito e coisas tristes no mundo dos quais alguns a gente nem faz ideia ...
ResponderExcluirÉ isso mesmo, Minda! O que eu gostei desse livro foi o modo como me abriu os olhos para isso de maneira tão simples e leve.
ExcluirAinda não li obras desta autora, mas conhecer sua escrita está na minha lista de metas para o próximo ano.
ResponderExcluirOi, Alessandra. Que ótimo! Além desse, sugiro "No Seu Pescoço" e "Hibisco Roxo" da mesma autora. São incríveis. :)
Excluirbeijos