A palavra “refugiado” se tornou comum nos meios de comunicação e no nosso cotidiano nos últimos anos. Lembro-me bem que o tema da redação do ENEM de 2012, ano que fiz, abordou a imigração de haitianos para solo brasileiro diante do terremoto que atingiu o país dois anos antes, em 2010. Porém, não é de hoje que pessoas dos mais diversos cantos do mundo se deslocam em nome da sobrevivência. E o livro “Longe de Casa” da ativista paquistanesa Malala Yousafzai apresenta histórias de meninas e mulheres que, assim como ela, precisaram deixar suas casas em busca de paz.
Título: Longe de Casa (We Are Displaced)
Autora: Malala Yousafzai
Tradução: Lígia Azevedo
Páginas: 232 páginas
Editora: Seguinte (Grupo Companhia das Letras)
Sinopse: Ao longo de sua jornada, a paquistanesa Malala Yousafzai visitou uma série de campos de refugiados, o que a levou a pensar sobre sua própria condição de migrante — primeiro dentro de seu país, ainda quando criança, e depois como ativista internacional, livre para viajar para qualquer canto do mundo, exceto sua terra natal. Em Longe de casa, que é ao mesmo tempo um livro de memórias e uma narrativa coletiva, Malala explora sua própria trajetória de vida e apresenta as histórias de nove garotas de várias partes do mundo, do Oriente Médio à América Latina, que tiveram que deixar para trás sua comunidade, seus parentes e o único lar que conheciam. Numa época de crises migratórias, guerras e disputas por fronteiras, Malala nos lembra que os 68,5 milhões de deslocados no mundo são mais do que uma estatística — cada um deles é uma pessoa com suas próprias vivências, sonhos e esperanças.
Como informei lá no Instagram e vocês já devem ter notado na lateral aqui do blog, o Apenas Fugindo faz parte do Time de leitores 2019 do Grupo Companhia das Letras. E o primeiro livro recebido foi “Longe de Casa”, da autora Malala Yousafzai. Apesar de conhecer a história da ativista e a repercussão de sua luta para que meninas e mulheres tenham acesso à educação, esse foi a primeira obra dela que li. Antecedido por “Eu sou Malala” (2013) e “Malala e o seu lápis mágico” (2017)*, destinado ao público infantil, “Longe de Casa”, lançado em 19 de março, vem com uma nova perspectiva, tendo a jovem ativista vencedora do Prêmio Nobel da Paz (2014) como organizadora de histórias.
O
livro é dividido em duas partes. A primeira, denominada “Estou longe de casa”,
Malala traz um breve resumo de história e a saudade que sente, todos os dias,
do Vale do Swat. Apesar de ser um relato breve, as primeiras 51 páginas do
livro já nos tocam com o desejo de justiça que vive dentro de Malala desde
criança. Foi muito tocante para mim, por exemplo, perceber o quanto algo
simples para nós como o fato de ir à escola, pode ser negado a alguém de forma
tão cruel; e, a luta para retornar as salas de aula, acabar num ataque armado.
[...] Pensei que ia terminar os estudos e entrar para a política para ajudar as meninas do Paquistão. Então, em 9 de outubro de 2012, atiraram em mim. Eu tinha me tornado um alvo do Talibã** porque defendia a educação de meninas e a paz. (p. 44)
A
segunda parte, chamada “Estamos longe de casa”, traz relatos de dez meninas e
mulheres realocadas no próprio país ou refugiadas em terras desconhecidas
fugindo da fome, da violência, da guerra; Iêmen, Síria, Iraque, Colômbia são só
alguns exemplos dos países deixados para trás. As histórias são pesadas, tocantes
e nos fazem refletir sobre nossas prioridades, privilégios, escolhas.
Enquanto
negligenciamos aulas da escola e da faculdade, por exemplo, muitas garotas
imploram por uma segunda chance a fim de se formar. Não costumo falar dessa
parte da minha vida por aqui, porém, fui a primeira neta da família paterna a
ter entrado e concluído o ensino superior; como pode ser lido no perfil jornalístico "Mingau de Alho", a minha avó batalhou e muito para que todos(as) nós pudéssemos
estar onde estamos hoje. Logo, o relato de Marie Clarie me tocou – muito – por tratar
justamente sobre isso: sobre a alegria e, ao mesmo tempo, o peso dessa
conquista.
[...] Era o grande dia. Meu sonho tinha se realizado: eu ia ser a primeira da família a se formar no ensino médio. Meu coração estava transbordando, mas logo se partiu: era o sonho da minha mãe, também. Ela deveria estar ali para vive-lo comigo. (p. 152)
A
leitura de Longe de Casa se faz
necessária não só para que tenhamos noção dos horrores que muitas pessoas –
ainda – vivem diante da violência que a guerra impõe. A leitura desse livro se
faz fundamental não só, também, para que possamos repensar nossos privilégios e
como aproveitá-los, seja o acesso à educação de qualidade, água encanada, comida
na mesa, paz nas ruas.
A
leitura de Longe de Casa é imprescindível
para que possamos usar dos privilégios citados acima e fazer a diferença, seja
doando para fundações e ONGs responsáveis, seja fazendo a nossa parte com
refugiados e realocados na nossa cidade, estado ou país, auxiliando-os,
ajudando-os a se adaptarem, acolhendo-os. Só aqui no Brasil, até o final do ano
passado, foram reconhecidos 10.522 refugiados vindos de 105 países como Síria,
República Democrática do Congo, Colômbia, Palestina e o Paquistão, segundo o Comitê
Nacional para Refugiados do Ministério da Justiça***.
Como
é dito na contracapa do livro, “a única escolha que têm para se manter seguras
é ir embora. Então elas ‘escolhem’ ficar longe de casa. Só que não é exatamente
uma escolha”.
Que
façamos nossa parte para que refugiados e realocados possam, mesmo que longe de
casa, sentirem-se num lar.
*:
Ambos os livros foram publicados aqui no Brasil pelo grupo Companhia das
Letras.
**:
Movimento nacionalista islâmico.
***: ONU lança site para ajudar refugiados a encontrar emprego no Brasil. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/onu-lanca-site-para-ajudar-refugiados-a-encontrar-emprego-no-brasil/
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