REPRESENTATIVIDADE IMPORTA
Noite
de quinta-feira, 3 de novembro. No estágio, sou orientada a ir cobrir o 18º
prêmio de monografia da universidade, em meia hora. Com câmera, agenda e caneta
nas mãos, desço para o auditório que o evento aconteceria. O lugar, ainda
vazio, lentamente fica repleto de pessoas e eu tentava pegar as entrevistas o
quanto antes para depois tirar as fotos, voltar logo, redigir a matéria e ter o
trabalho concluído.
O
evento começou, sentada na primeira fila eu aguardava os discursos, levantando
vez ou outra para fotografar a mesa e o início da solenidade. A premiação
começou, os alunos vencedores e seus respectivos orientadores caminhavam em
direção a mesa e, em meio a aplausos, recebiam o certificado (e o prêmio, tratando-se
dos cinco primeiros) e eu era convocada para fazer os registros de cada um.
O
vencedor do 9º lugar foi anunciado e o rapaz ficou de pé. Estudante de
psicologia, negro, de cabelo crespo. A cada passo dado por ele o meu sorriso se
alargava. Sua foto eu fiz ainda com o sorriso no rosto. O aluno se sentou,
voltei para a lateral do palco e aguardei os anunciados seguintes.
Sétimo
colocado. O sorriso em seus lábios era refletido no meu. Também do curso de
psicologia, também negro, de cabelo cortado baixo e alegria estampada no rosto.
A foto, feita com a mesma animação de antes. Novamente, o aluno se sentou. Eu
voltei a lateral que me cabia e quando pensei que as emoções terminaram, me
enganei.
Sexta
colocada. Estudante de Educação Física, mulher, cacheada, negra, linda! Sentada
próximo aonde eu estava, o sorriso exibido nos lábios carnudos, que portavam um
batom forte, demonstrava a felicidade e realização que a moça se encontrava com
aquela premiação. A foto, assim como as anteriores, foi feita com alegria.
O
restante do evento se seguiu, normalmente. Ao fim de todas as fotografias,
entrevistas, aplausos, eu procurei cada um e pedi para tirar uma foto dos três
juntos.
“Representatividade
importa, né” Disse um deles, ao sorrir e apertar a minha mão. Eu sorri tão
largo quanto o momento em que cada um deles foi anunciado para a premiação.
“SIM!
Importa sim” respondi, eufórica.
Anilton
Santos Pereira, Fábio Santos e Jaqueline dos Santos Ladeira.
Suas
colocações não lhes renderam prêmios, apenas certificados. Mas saibam que a
conquista de vocês vai muito além do reconhecimento pelo trabalho árduo de uma
monografia.
Numa
universidade particular, uma das mais caras do estado, numa premiação de
trabalhos científicos, vocês representaram. Representaram a luta diária por
espaço seja na academia, no mercado de trabalho, no mundo, na vida.
Vocês
representaram todos nós que lutamos, dia após dia, em busca de reconhecimento.
O
prêmio, sem dúvida alguma, é de cada um de vocês.
Mas
também é nosso. Obrigada por nos representar de forma tão grandiosa.
Parabéns,
mais uma vez.
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