A primeira menstruação,
os seios cresceram. O corpo desenvolveu curvas, os rapazes (da sua idade ou
mais velhos) a observam com um outro olhar. Ela pinta as unhas, arruma melhor o
cabelo, ganha sandálias de salto, maquiagens, vestidos mais curtos.
Mas ela só tem 13 anos.
O interesse sai das
Barbies e vai para os meninos, que ainda não saíram das brincadeiras de bola e
bonecos de super-heróis. “Humpf, meninos demoram tanto a amadurecer”, é o que
ela escuta. É o que ela adota como verdade. Ela é madura, os meninos de sua
idade não. Como madura que é, ela deve procurar homens, porque HOMENS são
maduros como ela.
É
claro.
Na rua, no caminho da
escola, no parque com as amigas, homens a olham. “Que isso, novinha” “Ai,
papai, viu” e outras frases imundas adentram seus ouvidos como música. Eles são
homens, maduros. Ela é uma menina, mas ela também é madura. Tão madura para
idade dela, não é? O que haveria de errado conversar com homens que irão
entender o que ela diz? Ouvir as mesmas músicas, ter os mesmos interesses?
Nada.
Então, um desses a
convidou para sair. Ela, prontamente, aceitou. Mentiu para a mãe, saiu mais
cedo da escola e foi só “tomar um sorvete” com um cara dez anos mais velho que
ela. Ele disse coisas tão lindas, elogiou seu cabelo, notou os mais pequenos
detalhes, disse a famosa frase que a fazia suspirar.
Você
é madura demais para a sua idade.
E ela, ensinada como
foi, acreditou.
Caiu nas garras de um
homem manipulador que a persuadiu e que a abusava. Psicologicamente e
moralmente. Extremamente ciumento, ela o via como um príncipe encantado. A
proibiu de ver amigos, só podia sair ao lado dele, a culpa das brigas era
sempre dela. Mas a garota não reclamava, talvez fosse assim que ser madura era.
Mas o encantamento
chegou ao fim. Ela finalmente percebeu que não queria aquilo, que queria sua
vida com as amigas de volta, que queria viver a sua vida sem alguém a
controlando. Então, ela decide terminar. Ele virou outra pessoa. Aos prantos,
ele diz que vai mudar. Que não viveria sem ela. Que tiraria a própria vida se
preciso fosse, mas que a vida sem ela não valeria a pena. Então ela cedeu, uma
segunda chance foi dada.
E nada aconteceu.
Depois de idas e vindas,
do mesmo discurso, ela decidiu parar de ter pena e se livrar de vez de alguém
que não a fazia bem. O choro, o drama, o suposto suicídio não a fizeram mudar
de ideia. Ela finalmente deu um fim aquilo que a fazia mal.
Uma semana depois, a
ameaça de suicídio se tornou homicídio. Crime passional. Noticiado em todos os
sites e jornais locais.
E para a população, a
culpa era dela. A culpa era dela, ela o manipulou, ela o fez permanecer no
relacionamento, ELA que não valia nada e ELA que resolveu trocar as bonecas por
um cara mais velho.
Se morreu, o azar era
dela.
Afinal, ninguém havia
colado na cabeça dela que era hora de procurar alguém e deixar a infância de
lado, não é?
Afinal, ela descobriu
que era madura sozinha.
Afinal, a culpa é sempre
delAs por estarem naquele relacionamento, por usarem determinada roupa, por
estarem sozinhas, por não terem vigiado, por terem deixado seus homens
“carentes”, por trabalharem, por não terem se prevenido, por terem filhos
demais, por simplesmente serem mulheres.
Neste 8 de março, pare
com a hipocrisia. Reveja seus conceitos.
Você nos ama hoje, mas
nos humilhou ontem, nos humilhará amanhã.
4 Comentários
show de bola
ResponderExcluirObrigada (jp) anônimo! :D HAHA
ExcluirNossa, é bem isso que dias como o de hoje se tornaram, ilhas de hipocrisia (quiçá desencargo de consciência) nesse mar imenso q é o ano. Poxa, deveriam ser dias em que apenas se dá aquele capricho a mais no carinho, já que durante todo o ano se dá o devido valor e respeito. Penso mesmo que deveria ser sim, e espero - porque esperança tem que ser sempre a derradeira a desistir - viver para ver as pessoas se aproximarem mais desse "dar o devido valor e respeito" sempre. Não só às mulheres, claro, mas de forma especial à elas (a nós, oras u_u), porque já deu viu.
ResponderExcluirO pior ainda é ver que tem gente que lê um texto como um esse e AINDA culpar as garotas mais novas por ~se iludirem~ ou por ingressarem em um relacionamento como esse. É absurdo as pessoas não perceberem que parte disso é culpa da sociedade, é culpa nossa.
ExcluirQue a onda de protestos que tivemos nesse dia 8 sirva de lição para sermos respeitadas pelos homens e entre nós, né, miga.