Eita será que peguei pesado? Ligo não rs. Senta que lá
vem a história...
Escrever esse texto não
vai ser nada fácil. Passei alguns dias pensando no que eu poderia colocar no
papel. Aí vocês podem me perguntar: “Como assim uma mulher negra não tem
histórias de racismo pra contar?”. Nossa! Mulher negra. E se eu disser que até
me assumir assim foi difícil? Lembro bem quando compreendi quem sou, e não faz
muito tempo. Pois bem, caros amigos, passei a minha vida toda achando que não
teria histórias de racismo pra colecionar. Acontece que o lugar onde vivo me fez pensar
que o mundo é lindo, paz e amor, “somos todos iguais, braços dados ou não”. Por
um tempo pensei assim, mas hoje, mais madura, encaro o mundo de outra forma.
Eu moro em Nova Iguaçu,
Rio de Janeiro. Cheguei à conclusão de que aqui (como em muitos lugares,
acredito eu) o preconceito é velado. Tentei buscar na memória algum fato
explícito de discriminação que eu tenha passado ao longo dos meus 20 anos. Mas
não, não achei. Só que aí, flashes de vários momentos da minha vida começaram a
aparecer. Lembrei então de quando eu tinha 8 anos. Comemoração no colégio.
Todos felizes. Comida. Alegria. Legal. Lá estava eu, comendo, falando com os
poucos amigos que eu tinha, até que para um coleguinha ao meu lado. Ele branco
do cabelo liso, sabe? Enfim, poderia ser mais um colega de classe perto de mim.
Melhor seria se ficasse calado, ou que falasse de qualquer outro assunto idiota
de criança. Mas não. Ele ficou ali perto de mim, até que a Tia chegou com uma
bandeja de bolo de cenoura com calda de chocolate (meu favorito), eu peguei, claro.
Aí ele vem e me solta a seguinte frase:
“Nossa,
olha a calda desse bolo, da cor da Lysis!”
Idiotinha você, hein? Foi
imbecil o que ele disse? Com certeza. Mesmo 12 anos após o ocorrido eu NUNCA me
esqueci.
Acontece que isso não foi
o suficiente para eu tomar vergonha na cara e perceber a maldade das pessoas.
Depois disso eu passei por muitas coisas, desde piadinhas na escola sobre o meu
cabelo, a olhares de pessoas que falsamente diziam gostar de mim, mas que no
fundo mesmo não queriam que eu estivesse perto. Sem perceber isso foi
enraizando dentro de mim e eu não me aceitava. Me achava feia, com o cabelo
feio, nariz feio, cor feia, boca feia .... E assim foi por um bom tempo. Me
chamar de negra? Jamais! Eu era morena, e aí de quem dissesse o contrário. Na
verdade, ninguém dizia. Sempre foi assim:
“Lysis?
Ah, aquela moreninha?!”
Acabei acreditando, né?
Chegou a adolescência, e
como todo Pokémon, eu fui evoluindo rs ficando mais solta, ganhando corpo,
amadurecendo ... Até que chegou meus 15 anos, e com ele, meu primeiro namorado.
Eu estava completamente feliz, finalmente um cara retribuiu meus sentimentos.
Ele branco, loiro e com cabelo liso. Meu Deus! Tô pedindo pro pessoal falar o
que não deve. Me importei? Claro que não. Mas aí começaram as “complicações”.
Minha mãe já começou com as perguntas:
“Filha,
a família dele sabe que ele namora uma menina ‘moreninha’?”
Eu nunca entendia por que
ela dizia isso. Até que fui na festa dele de 18 anos, primeira (e única) vez
que eu conhecia sua família. Então eu conheci a “sogrinha”, toda fofa e
simpática comigo. Conversou com toda minha família e se mostrou bem feliz por
me conhecer. Pelo menos foi isso que eu pensei. Até que ela para pra conversar
com a minha mãe sobre a vida, sobre o filho mais velho que seria pai. E
burramente (ou felizmente) solta a seguinte frase:
“Ai, se
Deus quiser meu neto vai ser lindo, branco do olho azul”.
Aquele comentário idiota
eu tentei ignorar. Mas digo que felizmente ela disse isso porque serviu para
abrir meus olhos, me mostrar como o mundo é, como as pessoas são, e por tudo que
eu ainda passaria nessa vida.
Bom, essa história nunca
saiu da minha mente e acho que não vai sair. Toda vez que eu conheço um cara
legal, que me interesse, eu esquivo. No meu ouvido só vem à pergunta dela, e
começo a pensar nos problemas que eu poderia ter se começasse aquele
relacionamento. Eu sei que é errado, mas faço.
Enfim, poderia ficar
horas aqui escrevendo todas as “brincadeiras”, piadas e frases vazias que ouvi
durante a minha vida. Mas dessa vez eu vou deixar pra lá, o texto vai ficar
muito grande. Eu só sei que tenho nojo dessas pessoas, velado ou não isso me entristece
de uma forma que eu nem sei definir. Eu sei que tenho muitos aspectos relacionados
a isso pra mudar na minha vida. Porém sei que estou melhorando. A opinião
dessas pessoas pra mim é igual feriado dia de domingo: totalmente
desnecessária.
Sou linda sim, minha cor
também, meu sorriso mais ainda, minha boca grande, então, com um batom lindo é
m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a. E dane-se seus comentários. Eles eu dispenso.
Ufa! Acho que foi! Estou
mais leve agora!
Leia também os demais textos do especial #BlackPinupGirls:
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